Por Henrique Dias

Sempre tive a sorte de ser contratado para três tipos específicos de desafios: Aumentar a produtividade ou entrega de produtos, reduzir custos e implantar o setor de PCP.
Abaixo eu irei falar sobre como o GARGALO sempre é a minha ferramenta de trabalho para ter sucesso nestes três desafios relacionados à produção.
DEFINIÇÃO RESUMIDA DE GARGALO
O termo gargalo pode ser remetido a parte mais estreita de uma garrafa e faz com que o líquido diminua sua velocidade de saída quando chega nessa parte. Esse processo é o mesmo que o gargalo de produção faz.
A CORRELAÇÃO ENTRE A META E O GARGALO
Quando retratamos metas em setores produtivos, temos atrelado a elas uma demanda específica e quantitativa para um final de período específico, geralmente 30 dias corridos dentro de um mês de trabalho. Claro que, existem outras metas como índices de qualidade e outros, mas em maior parte do tempo a discussão em unidades produtivas é: TEMOS QUE ENTREGAR X UNIDADES ATÉ O FIM DO MÊS.
A correlação entre a meta e o gargalo é positiva e forte, afinal, se a sua produção depende por exemplo de uma máquina específica que tem uma capacidade muito próxima da necessidade para cumprir os objetivos finais do negócio, qualquer evento fora do programado que faça com que a sua máquina tenha um tempo de parada superior ao seu limite, opa, temos um grande problema!
Essa correlação forte entre eles quando não está sob controle, provoca uma série de efeitos colaterais e dificuldades para os gestores, como também para os negócios:
- Diminuição do fluxo de trabalho;
- Excesso de gastos;
- Limitação de produção;
- Dificuldade no alcance dos objetivos;
- Estresse organizacional;
- Perda de faturamento.
Com certeza independente se você atua no chão de fábrica ou não, você se depara com esse tipo de efeito colateral e, caso já o tenha resolvido, você vai concordar comigo: não foram 10 ou 20 fatores que fizeram a solução vir à tona, foram poucos talvez 2 ou 3 principais.
CUIDADO! SE VOCÊ NÃO BATEU A SUA META AINDA, O GARGALO NÃO ESTÁ ONDE VOCÊ OLHOU ATÉ AGORA, GUARDE AS DESCULPAS!
Muitas vezes durante a minha atuação profissional, algumas pessoas me procuraram dizendo:
- “Precisamos aumentar o turno de trabalho, estamos sem capacidade efetiva por isso não batemos as metas!”
- “Precisamos comprar mais uma máquina com certeza, não está dando assim!”
- “Essa galera não trabalha, nunca batemos essa meta!”
- “O problema é esse mix de produtos, essa indústria não tem capacidade de produção para atingir esse número que ele quer!”
- “Esquece, vamos fazendo até onde der!”
Cheguei ao ponto que gostaria de compartilhar a minha experiência com você, eu trabalho há 06 anos em um setor industrial específico, muitos que me acompanham aqui no LinkedIN são desse setor, setor de beneficiamento de rochas naturais para mercado nacional e exportação. Atualmente as empresas deste setor possuem um mix de produtos bem variado e que possuem etapas de produção bem distintas e, geralmente, quanto mais complexo o perfil de produção, maior é o valor agregado do produto. Eis o problema, o mix ficou mais complexo e o parque industrial muitas vezes é o mesmo, então, eu te proponho a entender qual é de FATO o seu GARGALO atual.
Vou dar abaixo alguns exemplos REAIS que aconteceram comigo ao longo desses 06 anos, vou tentar resumi-los mas sempre que compartilhei com amigos do setor de produção de outras empresas, foi valioso para eles.
1) O GARGALO MUDANDO DE LUGAR
Em Agosto de 2014 participei de uma reunião quente, havia uma cobrança geral da diretoria para que a produção entregasse um aumento efetivo na produção de materiais que além de processos de complexidade média, exigiam um trabalho manual no final de acabamento para finalização e oferta comercial. Nessa época, eu já era engenheiro de produção formado e atuava como PPCP na função de programação de produção, o problema dessa reunião foi a resposta do meu gestor: “Não será possível, o seu mix de produção não se comporta na fábrica”, silêncio total na sala.
Resultado, meu gestor foi demitido, e o mais triste é que eu havia tentado entregar as soluções para ele várias vezes. Me fizeram a mesma pergunta no mesmo dia à noite, e eu respondi: “Sim, é possível mas preciso inverter as máquinas em que processamos os materiais hoje.”
O que o meu gestor não entendeu foi que ele tinha 02 equipamentos sendo usados da maneira errada, entenda:
Equipamento A:
O equipamento A tinha uma capacidade limitada de 100 chapas por dia (por espaço e não por mão de obra) e apenas a possibilidade naquele momento de produzir com um turno de 8 horas, considerando a média de horas paradas de 12% na epóca, ou seja, ele tinha um limite de 14 chapas por hora. Entretando, o material beneficiado era feito em 24 chapas por hora em dia bem produtivo e 20 chapas por hora de tempo médio de produção. Neste equipamento tínhamos 06 pessoas trabalhando.
Limite de produção: 100 chapas por dia | Produtividade média antes das ações: 18ch/hora. | Produção necessária para preencher as estações: 14ch/hora. | Ociosidade de pouco mais de 02 horas. | Total de pessoas por turno: 06 pessoas
Equipamento B:
O equipamento B tinha uma capacidade maior, era automático, com 02 pessoas por turno, era possível ter uma produtividade média de 25 chapas por hora. Com 06 pessoas, era possível ter mais que o dobro de produção do equipamento A, além de outros benefícios.
Limite de produção: 25 chapas por hora | Produtividade média antes das ações: 10ch/hora | Total de pessoas por turno: 02 pessoas
A solução foi simples, uma inversão de tipo de produto, e chegamos a bater a primeira meta com 30 dias de trabalho.
Resumo após mudanças
Equipamento A:
Produtividade média entre 10 e 14ch/hora | Aumento de produção nos produtos de maior valor agregado | Redução de ociosidade e cumprimento dos objetivos globais de entrega.
Equipamento B:
Produtividade média entre 20 e 25 ch/hora | Aumento do volume de entrega final | Ganho de velocidade de fluxo industrial.
No mês seguinte, o problema era que o produto gerava um acúmulo grande na etapa de acabamento manual. Lembro que na época fomos muito simplistas e dobramos a capacidade do acabamento manual confiantes de que seria a solução, mas isso foi muito óbvio e não resolveu. Primeiro tínhamos que diminuir a quantidade de retoques e não aumentar a produção do acabamento.
Solução: Pesquisa de novos fornecedores que permitissem uma redução de retoque e treinamento de toda equipe.
Depois o mix mudou de novo e o gargalo também!
A solução não está somente em fazer o equipamento produzir mais, precisa utiliza-lo de maneira a otimizar a sua funcionalidade e capacidade! Sair do foco do óbvio que é aumentar turno, comprar máquinas e etc, permitiu que a produção aumentasse em 37% sem novos investimentos na unidade.
2) O GARGALO PODE MORAR NO SETUP
Existem diversos tipos de SETUP mas aqui quero tratar de um tipo que pode passar desapercebido afinal dizem: “Não tem jeito, tem que esperar!”
Em 2017 surgiu um desafio interessante, a produção precisava aumentar (dobrar e se possível até mais me foi dito) especificamente um produto. Quando cheguei na empresa todos diziam: “Esse material é complicado, tem que usar tratamento químico e precisa esperar o efeito de reação e ainda não pode trabalhar com ele molhado, precisa esperar secar senão tem que tirar todo o acabamento e voltar para o início do processo!”
Particularmente adorei o desafio, já estava afiado em focar naquilo que não era óbvio.
Qual era a percepção da produção naquele momento? – Precisamos trabalhar nesse material o tempo todo para poder atingir o número! O problema disso era que o setup dele atrapalhava os outros itens e tudo virava uma correria, precisava dar um jeito de atender tudo e não era possível, vamos aos setups desse material:
- Após serrar o bloco e transformá-los em chapas, esperar 24h para secar;
- Tratar as costas do material em pé, deitar em bancas fixas de trabalho, aplicar o produto, cobrir com plástico e esperar 24h deitado (ocupa uma estação de produção utilizada para produção de outros materiais);
- Levantar o material, deixar aberto entre as chapas e esperar 24h para secar (em dias de umidade maior, 48h)
- Realizar o levigamento no material, deixar aberto entre as chapas e esperar 72h para secar;
- Resinar: tempo de 12h;
- Realizar o polimento e fim;
Como eu disse, ele era produzido todos os dias e os tempos de setup geraram uma grande dificuldade para a equipe, acredite, a solução dada que irei descrever abaixo, além de surpreender a equipe pela simplicidade, permitiu com que a indústria entregasse muito mais produto ao estoque e o comercial atingir recordes de vendas uma vez que esse material complexo era o cargo chefe de vendas!
A solução foi simples, partindo do pior gargalo do material que é a ESPERA (leia quais são os 7 desperdícios do lean manufacturing), comecei pelo maior tempo 72 horas. A produção trabalhava de segunda à sexta, então tinha que levar isso em consideração.
Entenda uma coisa, eu não fiz conta de qual era a capacidade total de produção pois eu tinha certeza e permaneço com ela, não adianta, antes você precisa melhorar a eficiência do seu gargalo, qualquer coisa antes disso é gastar dinheiro e perder tempo.
Eu precisva utilizar esse tempo de 72 horas de forma eficiente, então determinei que eu precisava utilizar as 48h do sábado e domingo ao meu favor, concluindo que esse material só deveria ser levigado (item d) na quinta e na sexta para que desse tempo de fazer o volume necessário para entregar semanalmente e atingir o número mensal desejado, eu queria ter continuidade toda semana, material que puxa a venda, precisa ter constância para o comercial ter confiança e resultado.
Resolvido esse pior tempo, já que utilizamos 2/3 do tempo em dias não produtivos, eu tinha que considerar as 48h totais do processo de tratar e secar, portanto, voltando 48h a partir de quinta e sexta, os dias de executar o tratamento eram segunda e terça (a área de trabalho possuía dois lados com 10 bancas, então na segunda produzia de um lado, na terça do outro e tínhamos os 2 lados ocupados na terça, mas 01 lado livre para quarta e os livres para quinta e sexta), porém, para a indústria tratar segunda e terça preciso ter o material seco da serrada, então, os dias de serrar estão entre quinta e sábado (no sábado havia produção de serrada).
Mas para serrar preciso de matéria-prima, certo? Então a matéria-prima recebeu a programação semanal e qual o período limite semanal que poderia ter de limite para receber o material (quarta à sexta).
Toda segunda e terça eram padronizadas, enquanto inicia o tratamento do novo ciclo, estávamos polindo e entregando no estoque segunda e terça material pronto, ou seja, o comercial todo início de semana recebia uma nova remessa para trabalhar ao longo da semana do seu produto cargo chefe!
Fora dos dias determinados para a produção do gargalo, a indústria focava 100% nos demais produtos de vendas.
A partir daí, foi possível partir para calcular a capacidade produtiva, determinar volume financeiro necessário para o orçamento do suprimentos, determinar qual o volume que iríamos receber das jazidas, qual o tamanho de produção da jazida, qual o fluxo e orçamento de transporte das jazidas, qual o volume de faturamento possível, quais os indicadores principais para o PCP, determinando quais pessoas iriam acompanhar as etapas do gargalo, e etc.
Por isso eu disse que os três desafios podem ser bem resolvidos com o gargalo.
Entendeu? Seu gargalo pode ser o tempo, o dia, a hora… pode ser aquilo que você deixa para ver em último caso porque está focado na máquina, nas pessoas, no dinheiro que não tem pra investir! A solução acima não exigiu nenhum centavo da empresa e permitiu maior produtividade, maior faturamento e muito mais PAZ!
RESOLVER O GARGALO É TER TEMPO!
Quando você soluciona o gargalo e dá vazão produtividade, começa a atingir resultados não antes obtidos. Quando você começa a ter mais facilidade para atingir as metas, você começa a ter mais tempo para gerir outras demandas como:
- Planejar melhor as compras e reduzir os custos;
- Gerenciar melhor a sua equipe direta;
- Analisar melhor o comportamento de estoque e entender o ritmo comercial;
- Ter melhor capacidade de analisar os problemas dos setores que vem antes e depois de você e contribuir com soluções que melhoram o seu setor e o negócio em geral;
- Gerenciar melhor os seus controles, indicadores…
- E de brinde, conseguir melhorar a gestão do setor e até implantar, por exemplo, o setor de PCP da maneira certa.
Entenda… se você não resolver o seu gargalo, estará sempre sendo cobrado, estará sempre atrás na meta, a produção ou seu setor sempre serão sempre os culpados! Enfim, viverá sempre correndo atrás do “rabo”.
Se você levar a sério que o gargalo precisa ser acompanhado diariamente, muito mais vezes do que os demais fatores, posso te garantir que o seu resultado vai mudar. Não esqueça, gargalo é aquilo que restringe a sua capacidade, se uma máquina não consegue produzir, por exemplo, 30 unidades por hora, verifique se ela recebe do processo anterior 30 ou mais unidades por hora pelo menos, para não perder foco com o problema errado. Mas, tenha certeza que o problema é este, nem sempre é tão óbvio!
Desejo sucesso para você e, se precisar de ajuda ou compartilhar ideias, lembre-se do maior segredo de todos: CONVERSE COM A OPERAÇÃO, faça as perguntas certas pois a solução na maior parte das vezes, sempre está com eles!
Até mais, espero que tenha gostado!